29 de novembro de 2007

Palavras...

Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem o seu ofício.

Isso mesmo.

Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar.

Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa.

A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer.

12 de novembro de 2007

Valor Agregado x Engenharia

Ilustríssimos leitores.

Hoje vamos refletir sobre um tema que pouca gente se dá conta, mas que na verdade faz a verdadeira grandeza de uma nação: os engenheiros! Vamos falar, acima de tudo, da importância do engenheiro para o desenvolvimento do Brasil.

Para começar, vamos falar de bananas e do doce de banana, que eu vou chamar de "bananada especial", inventada (ou projetada) pela nossa vovozinha lá em casa, depois que várias receitas prontas não deram certo. É isso mesmo. Para entendermos a importância do engenheiro, vamos falar de bananas, bananadas e vovó. A banana é um recurso natural, que não sofreu nenhuma transformação.

A bananada é a banana + outros ingredientes + a energia térmica fornecida pelo fogão + o trabalho da vovó e + o conhecimento, ou tecnologia da vovó. A bananada é um produto pronto, que eu vou chamar de riqueza.

E a vovó? Bem a vovó é a dona do conhecimento, uma espécie de engenheira da culinária.

Agora, vamos supor que a banana e a bananada sejam vendidas.

Um quilo de banana custa um real. Já um quilo da bananada custa cinco reais. Por que essa diferença de preços? Porque quando nós colhemos um cacho de bananas na bananeira, criamos apenas um emprego: o de colhedor de bananas. Agora, quando a vovó, ou a indústria, faz a bananada, ela cria empregos na indústria do açúcar, da cana-de-açúcar, do gás cozinha, na indústria de fogões, de panelas, de colheres e até na de embalagens, porque tudo isto é necessário para se fabricar a bananada. Resumindo, 1kg de bananada é mais caro do que 1kg de banana porque a bananada é igual banana mais tecnologia agregada, e a sua fabricação criou mais empregos do que simplesmente colher o cacho de bananas da bananeira.

Agora vamos falar de outro exemplo que acontece no dia-a-dia no comércio mundial de mercadorias: em média, 1kg de soja custa US$ 0,10 (dez centavos de dólar), 1kg de automóvel custa US$ 10, isto é, 100 vezes mais, 1kg de aparelho eletrônico custa US$ 100, 1kg de avião custa US$1.000 (10 mil quilos de soja) e 1kg de satélite custa US$ 50.000. Vejam, quanto mais tecnologia agregada tem um produto, maior é o seu preço, mais empregos foram gerados na sua fabricação.

Os países ricos sabem disso muito bem. Eles investem na pesquisa científica e tecnológica. Por exemplo: eles nos vendem uma placa de computador que pesa 100g por US$ 250. Para pagarmos esta plaquinha eletrônica, o Brasil precisa exportar 20 TONELADAS de minério de ferro! A fabricação de placas de computador criou milhares de bons empregos lá no estrangeiro, enquanto que a extração do minério de ferro, cria pouquíssimos e péssimos empregos aqui no Brasil! Viram a diferença?

O Japão é pobre em recursos naturais, mas é um país rico. O Brasil é rico em energia e recursos naturais, mas é um país pobre. Os países ricos são ricos materialmente porque eles produzem riquezas.

Riqueza vem de rico. Pobreza vem de pobre. País pobre é aquele que não consegue produzir riquezas para o seu povo. Se conseguisse, não seria pobre, seria país rico.

Gostaria de deixar bem claro três coisas:

1º) quando me refiro à palavra riqueza, não estou me referindo a jóias nem a supérfluos. Estou me referindo àqueles bens necessários para que o ser humano viva com um mínimo de dignidade e conforto;

2º) não estou defendendo o consumismo materialista como uma forma de vida, muito pelo contrário;

3º) e acho abominável aqueles que colocam os valores das riquezas materiais acima dos valores da riqueza interior do ser humano.

Existem nações que são ricas, mas que agem de forma extremamente pobre e desumana em relação a outros povos.

Creio que agora posso falar do ponto principal. Para que o nosso Brasil torne-se um País rico, com o seu povo vivendo com dignidade, temos que produzir mais riquezas... Para tal, precisamos de conhecimento, ou tecnologia já que temos abundância de recursos naturais e energia. E quem desenvolve tecnologias são os cientistas e os engenheiros! Infelizmente, o Brasil é muito dependente da tecnologia externa. Quando fabricamos bens com alta tecnologia, fazemos apenas a parte final da produção. Por exemplo: o Brasil produz 5 milhões de televisores por ano e nenhum brasileiro projeta televisor. O miolo da TV, do telefone celular e de todos os aparelhos eletrônicos, é todo importado. Somos meros montadores de kits eletrônicos. Casos semelhantes também acontecem na indústria mecânica, de remédios e, incrível, até na de alimentos. O Brasil entra com a mão-de-obra barata e os recursos naturais.

Os projetos, a tecnologia, o chamado "pulo do gato", ficam no estrangeiro, com os verdadeiros donos do negócio. Resta ao Brasil lidar com as chamadas caixas pretas.

É importante compreendermos que os donos dos projetos tecnológicos são os donos das decisões econômicas, são os donos do dinheiro, são os donos das riquezas do mundo.

Assim como as águas dos rios correm para o mar, as riquezas do mundo correm em direção aos países detentores das tecnologias avançadas. A dependência científica e tecnológica acarretou para nós brasileiros a dependência econômica, política e cultural. Não podemos admitir a continuação da situação esdrúxula, onde 70% do PIB brasileiro é controlado por não residentes.

Ninguém pode progredir entregando o seu talão de cheques e a chave de sua casa para o vizinho fazer o que bem entender. Eu tenho a convicção que desenvolvimento científico e tecnológico aqui no Brasil garantirá aos brasileiros a soberania das decisões econômicas, políticas e culturais.

Garantirá trocas mais justas no comércio exterior. Garantirá a criação de mais e melhores empregos. E, se toda a produção de riquezas for bem distribuída, teremos a erradicação dos graves problemas sociais. Cabe aos professores (mais uma vez, os professores) continuar formando engenheiros com conhecimentos iguais aos melhores do mundo. Eu posso garantir a todos que qualquer engenheiro brasileiro é tão ou mais inteligente do que qualquer engenheiro americano, japonês ou alemão. Os brasileiros são muito mais criativos do que os habitantes do chamado "primeiro mundo", pois fazem, sem nenhum material, coisas que os americanos/japoneses/alemães fazem gastando bisnagas de dinheiro.

O que me revolta é ver que as decisões políticas tomadas por pessoas despreparadas ou corruptas são responsáveis pela queima e destruição de inteligências brasileiras que poderiam, com o conhecimento apropriado, transformar o nosso Brasil num país florescente, próspero e socialmente justo! Acredito que o mundo ideal seja aquele totalmente globalizado, mas uma globalização que inclua a democratização das decisões e a distribuição justa do trabalho e das riquezas! Infelizmente, isto ainda está longe de acontecer, até por limitações físicas da própria natureza...

Assim, quem pensa que a solução para os nossos problemas virá lá de fora, está muito enganado.

O dia que um presidente da República, ao invés de ficar passeando como um dândi pelos palácios do primeiro mundo, resolver liderar um autêntico projeto de desenvolvimento nacional, certamente o Brasil vai precisar, em todas as áreas, de pessoas bem preparadas. Só assim seremos capazes de caminhar com autonomia e tomar decisões que beneficiem verdadeiramente a sociedade brasileira. Será a construção de um Brasil realmente moderno, mais justo, inserido de forma soberana na economia mundial e não como um reles fornecedor de recursos naturais e mão-de-obra aviltada.

Quando isto ocorrer, e eu espero que seja em breve, o nosso País poderá aproveitar de forma muito mais eficaz a inteligência e o preparo Intelectual dos brasileiros.

6 de novembro de 2007

Rotedogue com milquexeique

Olá!
Depois de quase quatro dias sem uma única postagem, estamos de volta! E não é uma volta qualquer! Voltamos com um tema na ponta da língua, para debatermos e refletirmos juntos: a mania do estrangeirismo!

Para os nossos vizinhos portenhos, um mouse é uma coisa para americano ver. Na Argentina, é ratón o nome do dito cujo, e winchester é uma arma, e Hard Disk é disco duro, e por aí vai... Mas os brasileiros são diferentes... ah, como são!
Os brasileiros adoramos (erro de concordância proposital, antes que me chamem de analfa) um estrangeirismo no nosso cotidiano. Adoramos ler tudo em inglês, torcendo a língua, tendo câibra nas bochechas e fazendo careta (jurando que a careta é cara de esperto). E ai ai ai de quem ler "lazer" onde diz "laser". Esse é taxado de burro! E qual a pena para quem escrever lêiser? Ih... esse vai ficar duas semanas ajoelhado em grãos de milho, aprendendo o inglês do português: playground, pager, page-maker, air bag, baby-doll, game, etc. Se dependesse do gramático Volnyr Santos, tudo tenderia a facilitar. Já está registrado no DELP - Dicionário Essencial da Língua Portuguesa, da Editora Rígel, em uma seção só de estrangeirismos, palavras como pleigraunde, pêiger, peige-mêiquer, erbegue, beibidol, gueime, etc.!
Imagine a seguinte situação: você está dirigindo o seu carro por uma avenida da sua cidade, quando de repente, depara-se com um grandioso bequilaite, ostentando o grandioso nome: Xópin X. Imagine lendo um manual da internete: "Agora clique com o botão direito do seu mause no bequigraunde do saite, mas tenha cuidado, pois um réquer pode deletar todinha sua romepeige.

Viva o neologismo! Viva o estrangeirismo!

Mundo globalizado precisa de traduções? E a língua, berço da cultura de um povo e alicerce da grandeza de uma nação, antigamente tão protegida, não sofrerá terríveis perdas nesse processo desenfreado de criações? Segundo especialistas europeus em lingüística, se não forem tomadas medidas de preservação para os idiomas, a tendência é que muitos deles desapareçam. O principal fator para o sepultamento (estamos recém no velório) de uma língua é a comunicação. Alguns jovens preferem a língua falada na internet à sua língua materna. A gota d'água é quando a comunidade se questiona se vale a pena falar sua própria língua. É infinitamente mais coerente o que fazem nuestros hermanos: cantam "Sunday bloody Sunday", mas a banda é U-dos. Para nós, provavelmente, será Iu-tchú. Fica a dúvida: Autorizar a escrita de saite e internete ou ensinar que site é local, international net é rede internacional? Para quem pensou na alternativa "a", pode aproveitar a repiáuer de hoje, no xópin, ouvindo no seu uoquimen uma música dêncin, comendo um rotedogue e tomando um milquexeique. E quando chegar em casa, acessa a internete e me envia um imêil (vitor.mendes@pop.com.br).