15 de outubro de 2010

A escrita e o dinheiro

Para um surdo, é muito mais difícil aprender a ler e a escrever do que para quem ouve bem. Aliás, não é raro encontrarmos um surdo que atravessou toda a sua existência como um completo analfabeto.

A leitura é um exercício silencioso. Não precisamos falar, ou ouvir, para ler. Nem devemos. A concentração necessária à leitura faz-se na paz e na quietude.

Assim, eu imaginava que os livros eram um refúgio dourado, uma ilha aventurosa para quem não podia ouvir. Ledo engano. Os livros são desafios renhidos para quem tem deficiência auditiva.

Sabe por quê?

Porque o nosso sistema de escrita é fonético. Quer dizer: cada letra representa um som. A palavra escrita "casa" reproduz simbolicamente os sons pronunciados: "ca... sa".

O problema é que, para quem nunca ouviu este som, a palavra "casa" não significa nada. Não passa de um desenho: uma meia-lua crescente, "C", ligada a uma pequena torre, "A", grudada a uma serpente, "S", pegada a outra torre, "A". Agora, se eu desenhar um quadradinho com um triângulo em cima, todos vão entender que estou representando uma casa.

Um surdo de nascença, para aprender a ler, tem que decorar todas as palavras. Percebeu como isso é complexo? Se eu escrever, por exemplo, lóqui, triquetrique, quéque, que são palavras típicas do dialeto riograndense, mas que não existem na língua portuguesa, se eu escrever qualquer um desses termos, um surdo, que não decorou as palavras, não compreenderá do que se trata. Mas um carioca que jamais esteve nesses pagos meridionais e que ouve bem irá deduzir o significado pelo som:

- Eles fizeram fuquefuque.
- Tu é lóqui.
- Tudo triquetrique.

Nós escrevemos os sons que falamos.

Suponho que um surdo tenha mais facilidade em ler em chinês. Afinal, a escrita chinesa é pictográfica. Os chineses precisam decorar o significado de cada desenho, que pode representar uma ideia, um objeto e até um sentimento. Não é à toa que há mais de 40 mil caracteres chineses. Porque há mais de 40 mil coisas no mundo para serem expressas.

Uma pessoa pode não saber falar uma única palavra em chinês e ainda assim pode saber escrever e ler com fluência em chinês.

Da mesma forma, alguém que fala chinês desde pequeninho pode saber falar e escrever em todas as línguas ocidentais, mas ser analfabeto em chinês.

Não é uma loucura isso?

A nossa escrita, portanto, é auditiva.
Você “ouve” o que lê.

A dos chineses é visual. Eles veem o que leem.

Os chineses angariaram fama de possuir uma cultura milenar avançadíssima, mas nesse particular perdem de longe para as demais culturas. Um alfabeto que reproduz sons é muito mais prático, simples e inteligente do que um que tenta imitar imagens.

Mas como a Humanidade chegou essa conclusão? Como foram inventadas as palavras?

É aí que entram os sumérios.

Os sumérios foram um povo criativo. Por volta de 4 mil anos antes de Cristo, pouco mais, pouco menos, um deles teve uma ideia genial que, como todas as ideias geniais, gerou muitas outras ideias geniais. Esse sumério inteligente e industrioso, o que ele inventou foi…

… você acha que é “a escrita”, mas está errado. O que o sumério inteligente e industrioso inventou foi…

… a irrigação!

Ele construiu canais para desviar as águas do Tigre e do Eufrates e, assim, não apenas domou as enchentes periódicas desses rios como garantiu água em abundância para as suas plantações, melhorando-lhes o rendimento.

Água. A vida se move em torno da água.

Os vizinhos do nosso amigo inteligente e industrioso, admirando-lhe a prosperidade, o imitaram, e logo toda aquela região foi rasgada por canais, e a água fez verdejarem as plantações. O excedente agrícola liberou alguns homens do exaustivo trabalho no campo. Homens com mais tempo livre têm mais tempo para fazer bobagem, sim, mas também têm mais tempo para pensar. Esses pensadores começaram a planejar a produção. Inventaram instrumentos para medir as variações dos terrenos e o fluxo das águas e, desta forma, aperfeiçoaram a matemática. Inventaram o arado e, desta forma, propiciaram mais tempo a outros homens, que, por sua vez, dedicaram-se a organizar a comunidade: eles perceberam que, juntos, produziam cada vez mais e trabalhavam cada vez menos.

Os homens, reunidos em comunidades, entenderam que era preciso doar parte de seus recursos para que fossem feitas obras que beneficiassem toda a coletividade. Como estradas, por exemplo. Ou canais de irrigação que passassem por várias propriedades.

Assim foram criados os impostos.

Como havia excedente de produção, os sumérios tomavam o que lhes sobrava e trocavam com estrangeiros por produtos que não existiam em suas terras.

Assim foi criado o comércio.

Porém, outro problema os afligia: como registrar as compras e as vendas, as quantidades de bens estocados e o montante dos impostos pago por cada cidadão?

Agora chegamos lá.

Assim foi criada a escrita.

Os sumérios, ao inventarem a escrita, não pretendiam tecer romances, não queriam contar histórias. O objetivo deles era não perder dinheiro.

Dinheiro, dinheiro, dinheiro, o mundo freme pelo dinheiro desde antes de o dinheiro ser inventado.

A ânsia pelo dinheiro também produz nobres resultados.

26 de agosto de 2010

Perguntas que eu gostaria...

Boa tarde, prezados.

Eu queria fazer algumas perguntas ao Lula. Seguem:

1. O Sr. prometeu criar 10 milhões de empregos, e chegará ao final do mandato tendo criado apenas 4 milhões (menos da metade do que prometeu). Nesse tempo, a renda da classe média caiu, e os empregos gerados se concentram na faixa de até 2 salários mínimos. A "distribuição de renda" da sua gestão administrativa foi feita, então, a partir do empobrecimento dos mais ricos?

2. O Sr. disse que banqueiro lucra na sua gestão administrativa, e por isso, não precisa de PROER. O Sr. sabe quantos PROERs o Brasil paga por ano para sustentar os juros reais mais altos do globo terrestre?

3. O seu filho, até bem pouco tempo antes de o Sr. assumir a presidência, era monitor de um jardim zoológico, e hoje é um empresário milionário. O Sr. não acha que esta foi uma ascensão rápida por demais da conta?

4. Genoino sabia do mensalão. Sílvio Pereira e Dirceu também. Os ministros foram avisados do mensalão. Só o Sr. não sabia. O Sr. não acha que, nesse caso, não saber é tão grave quanto saber? E se houverem mais irregularidades feitas por políticos?

5. Em sua gestão administrativa, as invasões de terra triplicaram, caiu o número de assentamentos e mais do que dobrou o número de mortos no campo. Como o Sr. defende a sua política de reforma agrária?

6. Em 2002, o Brasil exportava a metade do que exporta hoje, e o risco-país era sete vezes maior. O país pagava 11% de juros reais. Hoje, continuamos a pagar mais de 10%. Continuaremos assim?

8. Em 2002, a gestão administrativa do Sr. Fernando Henrique Cardoso repassou para São Paulo R$ 223,2 milhões para a área de segurança. Em 2005, a sua gestão repassou R$ 29,6 milhões. Só o seu avião custou R$ 125 milhões. Não é muito pouco o que foi dado ao estado que tem 40% da população carcerária do país?

9. Quando o Sr. assumiu a presidência do país, o agronegócio respondia por mais de 60% do superávit comercial. Quase quatro anos depois, o setor está devendo R$ 50 bilhões. Como isso se explica?

Relembrando que o Sr. não estudou; também não trabalhou; possui um belo salário como presidente da república; um belo salário do partido; uma bela pensão como anistiado; uma aposentadoria; filhos estudando no exterior; que o Sr. não paga aluguel da mansão na qual mora; desconhece os preços da padaria, do supermercado, da farmácia e do açougue; viaja muito, com um avião luxuoso; possui uma frota inteira de carros à disposição; que o Sr. não fala inglês, espanhol, ou qualquer outra língua; que todos os ternos são italianos; que o Sr. possui inúmeras fazendas; que o Sr. não possui experiência administrativa; que o Sr. não tem vergonha de dizer que é "do povo", mesmo vivendo como um rei.

O Sr. sabia que, se quisesse, não poderia nem ser um gari de rua? Pois é. O concurso de gari exige ensino fundamental.

Respondidas?

5 de maio de 2010

Realmente

Certa vez escrevi sobre o que quer uma mulher. Agora escreverei sobre o que REALMENTE quer uma mulher. Falo, atenção: do que re-al-men-te ela quer. É o seguinte:

Autoridade
. Ela quer que tu, homem, tenhas autoridade.

Isso demanda alguma sutileza da tua parte
– porque as mulheres são seres sutis. Quer uma prova? As calças sem fundilhos. Existe alguma razão para que elas usem aquelas calças sem fundilhos, uma razão oculta, muito bem dissimulada, que nós, na nossa bruta avaliação estética, não alcançamos. Deve ter um motivo.

Suspeito que nós, homens, jamais descobriremos.

De qualquer forma, a sutileza da qual tu necessitas é menos complexa. Basta entender que ela espera que tu tenhas autoridade, mas não seja autoritário. Assim como quer que tu sejas divertido, não palhaço; gentil, não subserviente; generoso, não perdulário; bondoso, não otário; atencioso, não obcecado; interessado, não inconveniente; elegante, não vaidoso; prudente, não covarde.

É simples.


Se você atender a esses requisitos, as mulheres irão se agradar de ti, homem. Mas tu não poderás dispensar a autoridade. Porque a mulher é assim e ponto final.

Pense agora na mulher mais pedante e posuda que você conhece. Provavelmente ela é também uma mulher bonita. Talvez tenha algum poder. Talvez seja até a sua chefe! Ela manda, ela com seus tailleurs, ela se diz feminista, ela exige seus direitos, ela é cheia de argumentos, certo?

Certo.

Só que, na última esquina da alma, no escaninho mais escuro e bem guarnecido de seu ser, homizia-se o seu verdadeiro desejo: o de encontrar um homem que a chame de sua gatinha. Porque ela quer ronronar no calor do colo deste homem, quer se aconchegar em seu braço, quer que ele a proteja de tudo e de todos como se fosse seu pai, que a faça se sentir uma menina, uma princesa delicada e quebradiça, uma boneca de louça ou porcelana valiosa e frágil, ela quer que ele puxe os cobertores até seu queixo no inverno e a surpreenda com uma casquinha de morango no verão, ela quer que ele lhe mande flores para toda a empresa ver, ela quer ser propriedade deste homem, quer ser sua nenezinha, sua pequenininha, é isso que ela quer!

Mas ela encontra isso? Ela encontra um homem que a possa acalentar? Ela encontra um homem que re-al-men-te tenha autoridade?

Melancolicamente, a resposta muitas vezes é não. Não é fácil, para uma mulher, encontrar um homem que tenha os predicados que um homem deve ter. Isso é tão difícil como, por exemplo, um time encontrar um zagueiro que tenha essa mesmíssima qualidade.

Autoridade.

Um zagueiro que tenha técnica, mas não enfeite; que tenha estatura, mas não seja um estafermo; que fale em campo sem perturbar os colegas de defesa; que represente o time sem chamar demais a atenção sobre si mesmo; que se imponha aos adversários sem ser violento; que seja discreto sem perder a eficiência; que saiba que seu objetivo pessoal passa pelo atingimento do objetivo do grupo.

Um zagueiro assim é raro.
É ouro em pó. Assim como um homem com autoridade. É uma pena que existam poucos homens assim, porque se muitos existissem, não mais haveriam mulheres solteiras. É por isso que as mulheres dão em cima do seu homem, minha cara. Porque ele inspira autoridade, com o seu queixo levantado e ser ar de bom moço, elegante e austero.

A resposta é autoridade.

13 de abril de 2010

Quero ser feliz

Philip Roth foi eleito o escritor deste tempo, o preferido entre os preferidos.

Mas eu não gosto dele.

Ele até que escreve bem e tudo mais, mas tem uma coisa nele que me incomoda – os seus méritos. As qualidades de Roth como escritor tornam seus livros irritantes. Porque Roth consegue reproduzir com precisão os dramas desta época, os conflitos psicológicos, as angústias das pessoas. Seus personagens são como a gente real e respirante do século 21, gente psicanalisada, autocentrada, que superestima os próprios sentimentos.

É uma das marcas mais características do ocidente pós-Freud, e não é culpa de Freud, Freud era um filósofo, não podia prever a livre adaptação ideológica que os homens fariam de seu sistema de pensamento. É como Cristo, que nada tem a ver com as derivações do Cristianismo.

Não exatamente a psicanálise, mas seu subproduto ideológico é muito adequado ao nosso mundo feminino, no qual as pessoas consomem boa parte do seu tempo pensando em como se sentem e em por que assim se sentem. Atravessam a existência “em busca da felicidade”. Dia desses ouvi de passagem uma frase dita por um personagem de novela. Foi de passagem mesmo, não assisto novela – tenho preconceito contra novela e comédia romântica, e sou muito cioso com alguns de meus preconceitos. Enfim, ouvi o personagem desabafar:

– Eu só quero é ser feliz.

E volta e meia ouço pais suspirando:

– O importante é que o meu filho seja feliz.

Perfeito. É isso mesmo que as pessoas querem. A tal da felicidade, como diz a balada de Natal. Não chega a ser um desejo tolo. É apenas um pouco egoísta e bastante fútil.

Já eu não me preocupo se meu filhinho será ou não feliz. Preocupo-me em fazer dele uma pessoa que mereça ser feliz. Prefiro que ele tenha uma dignidade sólida, antes de uma felicidade banal. Prefiro que ele não seja como um dos chatolas personagens de Philip Roth.

Um governo, como um pai, também deveria tentar fazer de seu povo não um povo feliz, mas merecedor da felicidade. Exemplo: no fim do século 16, a Inglaterra fundou seus primeiros colégios públicos, gratuitos. Eram tão bons, que logo os membros da nobreza passaram a pagar para matricular seus filhos neles. Já na Alemanha, que nem Alemanha era nesse período, era uma reunião de principados independentes, na Alemanha a Educação é OBRIGATÓRIA há 400 anos. Os governos britânico e alemão não distribuíram dinheiro aos seus povos. Deram-lhes Educação. Que lhes deu dignidade.

Na poeira dos séculos, alemães e ingleses muitas vezes foram infelizes. Passaram por guerras, revoluções e cataclismos, ao cabo dos quais restaram arruinados, aos pedaços. Não tinham dinheiro, não tinham nada. Tinham apenas o que lhes ia na alma. A dignidade. Com dignidade, se reergueram, foram em frente, são o que são. Merecem a felicidade. O que é muito melhor do que ser feliz.

31 de março de 2010

Wolfrembaer

Naquela época eu andava com uma de dez e duas de cinco dobradas no bolso direito da minha calça jeans surrada. Uma de dez e duas de cinco, nada mais.

Tava duro.

Então era todo dia pão com ovo, ou pão com banana. Ah, tinha batata. Muita batata! Aí, justamente nesse dia foi que ela chegou. Aquela menina-mulher. Era (e ainda é) bem pequena, mas não baixinha. Magrinha, mas jeitosa. Curvas, sabe?

Ela tinha curvas, sim. Tinha um bracinho torneado, umas pernas que de vista pareciam magras demais, mas que na horizontal, ao longilíneo, poderiam esgueiravam qualquer cidadão de bem. Tinha um jogo diferente no caminhar, nos quadris, um olhar diferente, meio sacana. Toda branca, como o leite que sai da vaca. Branquinha, branquinha. Só faltava os cabelos serem castanhos. Mas eram vermelhos.

Pois ela chegou naquele dia, bem naquele dia que eu andava na maior dureza, e ela parou na minha frente e deu uma quebrada na cintura de um jeito que ela sabia dar, e me olhou com aquele olhar de viés, e me disse algo que me fez tremer todo por dentro:

- Tu sempre me quis, né?

Minha voz saiu rouca, do fundo do peito, arranhando a garganta:

- Ssempre…

Ela sorriu um sorriso dourado e branco:

- Vamos jantar hoje?

Respondi que sim, sim, sim... claro que sim! Combinamos de ir ao restaurante mais caro da cidade, que ali estava uma mulher que merecia jantares suntuosos, com consomês e pratos em sequência e maítres solícitos e tudo mais. Só depois que ela se foi, gingando, derramando a primavera por onde passava, só depois lembrei da minha situação financeira. Precisava arranjar dinheiro emprestado. Desesperadamente!

Saí atrás dos amigos. Descrevia a menina para eles. Gemia:

- Ela disse: “Tu sempre me quis, não é?”, ela me disse isso, cara! Preciso de um troco!

Fui num, fui noutro, nada. Amigos descapitalizados. Maldição.

Fui para casa aflito. Faltava uma hora para o encontro, e eu não encontrava a solução. Enquanto tomava banho, pensava no que fazer. O quê? O quê??? Aparentemente, não havia saída. E se confessasse meu estado lastimável para ela? Ela me consideraria um muquirana (com toda a razão) e cairia fora (com toda a razão). Havia outros, muitos outros, enxameando em torno dela. O que fazer, Cristo? O que fazer???

Saí do banho com o coração confrangido. Faltavam 45 minutos. Sentei-me na borda da cama, finquei os cotovelos nos joelhos e pus a cabeça entre as mãos. Não possuía nada que pudesse vender. Pelo menos não assim, à última hora. Menos mal que tinha gasolina no carro. Ninguém mais a quem apelar. E a menina me esperando, toda cheirosa e branquinha.

Desgraça! Desgraça!

Suspirei. Levantei-me. Ia assim mesmo, depois veria o que fazer. Tirei minha melhor camisa da mala. Vesti-a. Puxei a nota de dez e as duas de cinco da calça jeans. Olhei para elas como se olhasse um quadro de Renoir. Alisei-as. Deitei-as carinhosamente sobre o colchão. Suspirei de novo. Peguei outra calça da mala, uma um pouco mais nova, que fazia tempo que não usava. Enfiei uma perna. A outra. Fechei a calça. Colhi a de dez e as duas de cinco da cama. Levei-as ao bolso. E aí…

- WOLFREMBAER!!!

Achei dinheiro no bolso da minha calça! Dinheiro! Dinheiro! Dinheiro! O suficiente para pagar a conta caríssima de um restaurante caríssimo. Olhei pro céu. Com lágrimas nos olhos, balbuciei:

- Obrigado, Senhor!

Achar um buquê esquecido de reais no bolso de uma calça jeans quando uma menina jeitosa, com um olhar de sacana, com curvas e negaças à mancheia, com um jeito todo dela de quebrar os quadris, achar dinheiro para pagar a conta do restaurante quando uma menina dessas espera por você, isso, rapaz, isso sim é ser abençoado pelo Todo-Poderoso, isso sim faz um homem sair por aí com uma camiseta apregoando: "DEUS É FIEL".

Como é.

30 de março de 2010

Mulheres...

Sexo é coisa de homem. O que não significa que algumas mulheres não pratiquem o esporte por puro diletantismo. A História esfervilha de exemplos de fêmeas deste quilate. Catarina, “a Grande”, imperatriz de todas as Rússias, era uma. Dizia que precisava cometer sexo pelo menos seis vezes ao dia, senão ficava nervosa. Ninguém queria deixar a czarina nervosa, então os súditos a atendiam com fervor e faziam sexo com ela.

E faziam. E faziam. E faziam.

Talvez fosse por isso que a chamavam de “a Grande”.

Outro exemplo cintilante é a greco-egípcia Cleópatra VII, comumente conhecida simplesmente como "Cleópatra", apelidada com carinho de “Cheilon”, que em grego significa “lábios grossos”. Tinha-os grossos e sabia como usá-los, donde o seu prestígio com os romanos poderosos, como Júlio César e Marco Antônio.

Mas de todas, a minha preferida é Messalina.

Tinha tal ânsia por sexo que, à noite, metia-se debaixo de uma peruca morena e esgueirava-se para a Suburra, o bairro do pecado de Roma. Lá, subia em um tamborete e oferecia-se aos transeuntes por poucos sestércios. Aceitava qualquer um por qualquer preço. Levava-o para um dos quartos infectos que os rufiões alugavam e, sobre um catre precário, conduzia-o ao Olimpo. Viveu apenas 22 anos, Messalina, o suficiente para transformar o marido, o imperador Claudius, no maior corno da história da humanidade (com a provável exceção de um amigo que tenho, um dia conto a história dele).

Transformou-se também, Messalina, em sinônimo de devassidão. Se alguém quer falar mal de uma senhora, classifica-a:

- É uma Messalina.

É sinônimo de vagabunda. Eu considero um elogio, mas... quem inventou esse sinônimo deve ter sido uma mulher, na ânsia monogâmica de seus pensamentos.

A verdade é que Messalina sabia das coisas. Algumas mulheres sabem. Mas só algumas. Para a maioria, o sexo pode ser bom e tudo mais, mas é secundário. O mais importante para elas é o que há de mais importante na vida: a reprodução.

Que tipo de animal é o homem? Nada mais do que um pavão tentando impressionar a fêmea, no mais puro simplismo. O que ele faz, se não dispor de um penacho colorido na cauda? Ele ostenta a sua riqueza, ou o seu poder, ou a sua fama, ou a sua força física, ou a sua inteligência, ou sua segurança, ou os versos harmônicos de um soneto, aquela história do amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói e não se sente, é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer, et cetera e talicoisa.

O sexo comanda as ações do macho. Mas não da mulher.

A mulher, o que a comanda é a reprodução da espécie. Não duvido que neste momento você se lembre da sua colega que vem trabalhar com aquelas roupinhas e que olha para os homens de um jeito blasé que parece urrar: "Eu quero sexo, garoto!". Sim, eu sei que você vai se lembrar dela e vai argumentar: “Luaninha gosta de sexo como se fosse um homem”.

Mas você está enganado.

É tudo um truque de Luaninha. Em sua maioria, as mulheres usam a premência masculina pelo sexo para alcançar seus objetivos. Nem que os objetivos sejam, apenas, de medir a extensão de seu poder. É o caso da mulher que acena com promessas e depois recua. Ela queria, mas desistiu? Não. Ela nunca quis. Ela só pretendia constatar até onde poderia levá-lo, a você e a essa sua infantil agonia sexual.

As mulheres são como plantas, também querem ser polinizadas. Querem se reproduzir. Vou dar dois exemplos separados em 1.500 anos para que você possa compreender melhor o que digo.

O primeiro: Teodora, a imperatriz de Bizâncio.

Antes de ser imperatriz, Teodora foi prostituta. Ao contrário de Messalina, que, antes de ser prostituta, foi imperatriz. Isso diz muito sobre uma e outra. Messalina prostituiu-se por gosto, Teodora por necessidade. Mesmo assim, Teodora era uma prostituta competente. Aprendeu alguns truques para agradar os homens, tornou-se célebre em Constantinopla e, numa noite feliz, acabou se instalando no leito do imperador Justiniano. Feliz para ela e feliz para Justiniano, bem entendido. Tanto que o imperador se apaixonou por ela, apartou-a da vida fácil, transformou-a em teúda e manteúda e, depois, em imperatriz.

Você pode achar que, empossada imperatriz, aí sim que Teodora se soltou e passou a cevar seus desejos mais recônditos. Se achou, achou errado. Teodora foi uma imperatriz concentrada quase que com exclusividade nas lides políticas. Fez de tudo para conservar e aumentar o seu poder. E fez bem: certa feita, salvou a coroa do marido durante a chamada Revolta Nika. Ou Revolta Nike, que, em grego, significa “vitória” e, em português brasileiro, significa marca de tênis. Mas Teodora usou o sexo para atingir o seu objetivo político.

Muitas mulheres são assim.

Outras são como Angelina Jolie. Você se lembra da Angelina Jolie no começo da carreira? Ela respirava sexo, pelo que leio. Dizia que lhe apetecia refestelar-se com homens, mulheres e outros seres mais ou menos parecidos. Expunha aquelas tatuagens dela. Usava umas roupas que faziam a gente sentir uma dor bem aqui. No peito, eu digo.

Aí Angelina conquistou Brad. E o que aconteceu? Ela começou a ter filhos. Quantos, exatamente, não sei. Talvez nem Brad saiba. Mas são vários. Alguns o próprio Brad proporcionou. Um se chama Maddox! Outros ela adotou. Africanos, quase todos. O Brad dá uma saidinha para beber um chope cremoso com os amigos e, quando volta, tem um etiopezinho novo!

Mas o fato é que Angelina mudou. Continua linda e continua com aquela boca, mas perdeu muito da sua ferocidade sexual. Por quê? Porque não precisa mais dela. Seu objetivo, que era ser mãe, já foi alcançado.

Assim se comporta a maioria das mulheres em relação ao sexo. Com pragmatismo. Elas encaram o sexo como um meio, não como um fim.

Bem cedo as mulheres desenvolvem tal percepção, já na pré-adolescência, graças à menstruação. Com 12 ou 13 anos de idade a menina compreende que a vida tem ciclos, que tudo germina, floresce e fenece, que tudo nasce, chega ao auge e morre. Este ciclo está dentro dela, ocorre todos os meses. A menina logo entende, portanto, que nós não somos imortais.

O homem, ao contrário. O homem passa a vida julgando-se imortal e acreditando que algo de extraordinário acontecerá logo adiante. Que vai alcançar a glória, a fortuna, o sucesso. É por isso que o homem se ilude trocando de mulheres, buscando vida nova.

As mulheres não se iludem. As mulheres são práticas.

Essa qualidade das mulheres fez com que elas aceitassem a monogamia que lhes foi imposta há muito tempo atrás. Para elas era até bom. Porque, com a monogamia, o homem assumia compromissos até então inéditos para com ela e com os filhos. Com a monogamia, fundou-se a família. A mulher, agora, dispunha de ajuda na tarefa de criar os filhos. Dispunha de uma casa, não precisava mudar-se a todo o momento, o que era um incômodo para quem tinha de levar a criançada junto. Com a casa, a mulher passou a dispor de instrumentos, ferramentas, confortos impensáveis para quem leva a vida nômade.

A vida da mulher melhorou, pois, e por isso ela aceitou sua condição presumidamente inferior durante milênios, mesmo que, no passado, gozasse de grande prestígio devido ao seu papel na reprodução.

Gozava mesmo.

Tanto é que as divindades eram femininas. Os homens pediam proteção à Grande Mãe. As primeiras esculturas da Humanidade são, exatamente, de mulheres grávidas. É quase certo que serviam para algum tipo de culto ancestral. Ou seja: a mulher grávida era adorada como uma deusa.

Mas e a mulher que não deseja reproduzir? E a mulher que não deseja procriar, e talvez só deseje (no seu âmago), daqui a muito tempo?

Bem, mais um truque. Na verdade ela quer sim, ela sempre quis. Absolutamente toda mulher quer, meu amigo, grave isso. Quando ela diz que não quer, ou que não quer agora, é justamente porque não se sente segura o suficiente para isso. E a segurança pode ser qualquer coisa: uma casa, dinheiro ou até educação.

Ela, quando faz isso, põe empecilhos e obstáculos durante o caminho que, se ultrapassados, irão fornecer a segurança necessária para lhes conduzir ao caminho matriarcal.

3 de março de 2010

O pálido ponto azul

Nós estamos aqui.

A espaçonave já estava bem distante da Terra. Pensamos que seria uma boa idéia, logo depois de Saturno, dar uma ultima olhada em direção de casa.

De saturno, a Terra pareceria muito pequena para a Voyager poder captar qualquer detalhe, nosso planeta seria apenas um ponto de luz, um "pixel" solitário, dificilmente distinguível de muitos outros pontos de luz que a Voyager avistaria. Planetas vizinhos, sóis distantes... mas justamente por causa dessa imprecisão, de poder enxergar o nosso mundo assim, desse jeito, valeria a pena ter tal fotografia.

Já era entendido por cientistas e filósofos da antiguidade que a Terra era um mero ponto de luz em um vasto cosmos, mas ninguém jamais a tinha visto assim! Aqui estava nossa primeira chance, e talvez a última nas próximas décadas.

Então, aqui está - um mosaico quadriculado estendido em cima dos planetas, e um fundo pontilhado de estrelas muito distantes. Por causa do reflexo da luz do sol na espaçonave, a Terra parece estar apoiada em um raio de sol. Como se houvesse alguma importância especial para esse pequeno mundo... mas é apenas um acidente de geometria e ótica. Não há nenhum sinal de humanos nessa foto. Nem nossas modificações da superfície da Terra, nem nossas máquinas, nem nós mesmos.

Desse ponto de vista, nossa obsessão com nacionalismo não aparece em evidência. Nós somos muito pequenos. Na escala dos mundos, humanos são irrelevantes, uma fina película de vida num obscuro e solitário torrão de rocha e metal.

Considere novamente esse ponto. É aqui. É nosso lar. Somos nós. Nele, todos que você ama, todos que você conhece todos de quem você já ouviu falar, todo ser humano que já existiu, viveram suas vidas. Nossas alegrias e sofrimentos, milhares de religiões, ideologias e doutrinas econômicas, cada caçador e saqueador, cada herói e covarde, cada criador e destruidor da civilização, cada rei e cada plebeu, cada casal apaixonado, cada mãe e pai, cada criança esperançosa, inventores e exploradores, cada educador, cada político corrupto, cada "superstar", cada líder, cada santo e cada pecador da história da nossa espécie viveu ali, em um grão de poeira suspenso em um raio de sol.

A Terra é um palco muito pequeno em uma imensa arena cósmica. Pense nas infindáveis crueldades infringidas pelos habitantes de um canto desse pixel, nos quase imperceptíveis habitantes de um outro canto, o quão frequentemente seus mal-entendidos, o quanto sua ânsia por se matarem, e o quão fervorosamente eles se odeiam.

Pense nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores, para que, em sua glória e triunfo, eles pudessem se tornar os mestres momentâneos de apenas uma fração de um pontinho azul que somos. Nossas atitudes, nossa imaginária auto-imposição, a ilusão de que temos uma posição privilegiada no Universo, é desafiada por esse pálido ponto de luz.

Nosso planeta é um espécime solitário na grande e envolvente escuridão cósmica.

Na nossa obscuridade, em toda essa vastidão, não há nenhum indício de que a ajuda possa vir de outro lugar para nos salvar de nós mesmos. A Terra é o único mundo conhecido até agora que sustenta vida. Não há lugar nenhum, pelo menos no futuro próximo, no qual nossa espécie possa migrar. Visitar, talvez. Se estabelecer, ainda não. Goste ou não, por enquanto, a Terra é onde estamos estabelecidos.

Foi dito que a astronomia é uma experiência que traz humildade e constrói o caráter. Talvez, não haja melhor demonstração das tolices e vaidades humanas que essa imagem distante do nosso pequeno mundo. Ela enfatiza nossa responsabilidade de tratarmos melhor uns aos outros, e de preservar e estimar o único lar que nós conhecemos... o pálido ponto azul.

(adaptado de Carl Sagan: http://www.youtube.com/watch?v=EjpSa7umAd8)

24 de fevereiro de 2010

Descontrole


Naquele dia de sol, Mário chegou feliz e estacionou o reluzente caminhão em frente à porta de sua casa. Após 20 anos de muita economia e intenso trabalho, sacrificando dias de repouso e lazer, ele conseguiu.

Comprou um caminhão. Orgulhoso, entrou em casa e chamou a esposa para ver a sua aquisição. A partir de agora, seria seu próprio patrão.

Ao chegar próximo do caminhão, uma cena o deixou descontrolado. Seu filho de apenas 6 anos estava martelando alegremente a lataria do caminhão.

Irritado e aos berros, ele investiu contra o filho.

Tomou o martelo das mãos dele e, totalmente fora de controle, martelou as mãozinhas do garoto.

Sem entender o que estava acontecendo, o menino se pôs a chorar de dor, enquanto a mãe interferiu e retirou o pequeno da cena.

Na seqüência, ela trouxe o marido de volta à realidade e juntos levaram o filho ao hospital, para fazer curativos.

O que imaginavam, no entanto, fosse simples, descobriram ser muito grave. As marteladas nas frágeis mãozinhas tinham feito tal estrago que o garoto foi encaminhado para cirurgia imediata.

Passadas várias horas, o cirurgião veio ao encontro dos pais e lhes informou que as dilacerações tinham sido de grande extensão e os dedinhos tiveram que ser amputados.

De resto, falou o médico, a criança era forte e tinha resistido bem ao ato cirúrgico. Os pais poderiam aguarda-lo no quarto para onde logo mais seria conduzido.

Com um aperto no coração, os pais esperaram que a criança despertasse. Quando, finalmente, abriu os olhos e viu o pai o menino abriu um sorriso e falou:

"Papai, me desculpe, eu só queria consertar o seu caminhão, como você me ensinou outro dia. Não fique bravo comigo."

O pai, com lágrimas a escorrer pela face, em desconsolo, se aproximou mais e lhe disse que não tinha importância o que ele havia feito.

Mesmo porque, a lataria do caminhão nem tinha sido estragada.

O menino insistiu: "quer dizer que não está mais bravo comigo?"

"Não, mesmo", falou o pai.

"Então", perguntou o garoto, "se estou perdoado, quando é que meus dedinhos vão nascer de novo?"

19 de fevereiro de 2010

Nosso crescimento

Não é raro se escutar que a família é construída a partir das pessoas. Pais, filhos, sobrinhos, netos, avós, etc, ligados por laços culturais, de parentesco sanguíneo ou não.

Aliás, antigamente era muito mais comum a união de pessoas de uma mesma família. O casamento entre dois irmãos era uma prática comum na Idade Média. E até cincoenta anos atrás, o casamento entre primos era aceito sem problema nenhum.

Não existe família sem pessoas. Ou existe? A resposta é não, não existe.

Tudo se inicia através da constatação de que a família é constituída, quase sempre, de pessoas super diferentes, díspares, mas que vão se assemelhando através do tempo. Ficando parecidas, ou até iguais.

E não é exagero dizer que pessoas que vivem juntas há muito tempo são parecidas fisicamente. A explicação é lógica: como vivem há muito tempo juntos, passaram pelas mesmas emoções. Logo, possuem os mesmos traços de expressão. Mas mesmas tristezas, as mesmas alegrias, dividiram as conquistas, multiplicaram, enfim, as suas vidas.

Um casal, por exemplo, ao "montarem" uma família e morarem juntos, dividindo a mesma cama e o mesmo teto, reúne duas pessoas com histórias e experiências de vida completamente diferentes.

Quando o poeta afirma que dentre as coisas que catalisaram a sua vida, teve o aconchego do lar paterno, ele está afirmando a força de uma formação que se organiza a partir de uma vida bem estruturada, capaz de construir pessoas com base no amor, no respeito e na liberdade. E isso não é utopia, o inverso também é verdadeiro: pessoas sem estrutura são fruto de famílias incapazes de qualquer tipo de relação afetiva. Não têm amor (já escrevi sobre isso em um post, leia-se "Eles não têm amor").

Pode haver diferenças, exceções à regra, mas a regra geral é esta.

O verbo que move a construção das pessoas é amar. Como todo verbo, ele precisa começar e ser desenvolvido. Não nasce pronto. É o tempo que lapida este verbo.

É um verbo ativo, que não admite passividade ou acomodação. De fato, amor não é só sentimento, como dizem alguns: "eu vou só amar quando começar a sentir...". Não!

Deve-se procurar o amor desde o primeiro passo! Se eu não começo a amar, nunca vou sentir nada!

O amor traz a construção de uma família e a compreensão, o apoio, a confiança, a liberdade. O casal deve "se suportar". Não no sentido de "se aturar", mas sim no de "dar suporte" um ao outro. Para que a construção seja sólida, como a casa sobre a rocha, é preciso o interesse e o perdão. E o arrependimento. O perdão não se trata de uma atitude leviana e comodista.

Perdoar, do latim "per donare" (dar para), é dar alguma coisa a quem precisa. Se alguém me machuca, torna-se meu devedor. Quando o perdôo, a dívida fica quitada. A "matéria-prima" do perdão é o erro do outro. Porque erramos, Deus nos dá o seu perdão.

Resumindo, num casamento, ou numa família, a tentação baterá à porta por diversas vezes. Se cedermos, seremos fracos e inconsequentes. Trocaremos o abraço quentinho e o carinho certo por um futuro incerto, de desconfianças e incertezas. Vale mesmo a pena trocar o certo pelo duvidoso? Trocar uma vida inteira de possibilidades de um futuro afetivo e amoroso por uma ou mais aventuras?

14 de fevereiro de 2010

A menina que adorava mentir

Adriana resolveu contar a grande mentira da vida dela.

Esta mentira seria a consagração das décadas em que viveu mentindo. Uma grande mentira que mobilizaria aquela cidadezinha do interior, onde viveu toda a sua vida.

Adriana sempre mentiu.

Desde o berço, achava que a vida seria fácil, fácil. Que os erros não teriam que ser perdoados, já que ninguém os descobriria mesmo! Então, para quê o perdão? Esta palavra inexistia no seu vocabulário, pois a mentira tomou o seu lugar.

Na escola, todo dia contava uma mentira para os seus colegas. Alguns professores a colocavam de castigo e questionavam:

- Por que não escreve histórias?

Mas não, Adriana queria fazer parecer que levava a melhor vida para os outros, e isso só conseguia contando mentiras. Inventava mil estórias. Mal sabia ela que todas aquelas estórias seriam prejudiciais a ela mesma.

Adolescente, teve o segundo namorado à base da mentira. Não durou muito o relacionamento. Claro, as mentiras logo eram desmascaradas. Mas sem homem ela não ficaria... era linda! Uma atriz de novela! Trabalhava, era inteligente, cozinhava e era caprichosa. Assim, conquistaria todos os homens que quisesse.

Adulta, não conseguiu se fixar em um emprego pot muito tempo, pois logo a sua fama de mentirosa se espalhou. Não casou. Que homem iria querer casar com uma mentirosa? E quando se viu diante do desemprego e da falta de oportunidade, um “amigo” lhe convidou para ser política. Ah, foi o momento de glória!

Venceu várias eleições, mentindo. Não cumpria nada do que prometia. Era uma eloqüente mentirosa no coreto de sua cidade, bracejando as promessas invisíveis.

Até que o povo cansou e ela não conseguiu se eleger mais a nenhum cargo. Mas ficou rica. Enquanto procurava outras ocupações, continuava a mentir. Até que ninguém lhe deu atenção mais. Adriana, então, resolveu contar a grande mentira da vida dela.

Esta mentira seria a consagração das décadas em que viveu mentindo. Espalhou para toda cidade que só tinha seis meses de vida. Inventou uma doença e foi tão verdadeira que todos acreditaram. Podia ter sido uma grande atriz.

Chorava nos bares e nas festas e nos pubs e nas esquinas da cidade. Os religiosos rezavam pela sua saúde e Adriana passou a ser tratada como rainha. A grande cidadã e prefeita que aquela cidade já teve!

Até que um médico da capital chegou à cidade e descobriu toda a mentira. E a notícia logo foi se espalhando. Pronto! A vida de mentirosa de Adriana foi destruída. Foi levada à fogueira, assim como Judas nos sábados de aleluia. Ninguém lhe falava mais e nem um “bom dia” recebia. Foi definhando, acreditou na sua grande mentira e dizia que faltava pouco para morrer. Até que morreu. No dia 1º. se abril. Morreu com a doença que havia inventado. O povo daquela cidade só soube por um cartaz redigido com uma velha máquina de escrever na porta do bar. Ninguém foi ao enterro. Só ela e o coveiro. Afinal, ninguém acreditou que Adriana tinha realmente morrido. Nem o padre. Era mais uma grande mentira!

1 de fevereiro de 2010

Faixa de Gaza

Estive lendo sobre a situação dos palestinos na Faixa de Gaza, falta água, comida, energia elétrica, combustíveis, medicamentos, dignidade e talvez esteja faltando até esperança. Israel está pressionando para que o Hamas abandone a liderança política do território. Israel ainda aproveita ataques “terroristas” do Hamas para realizar contra-ofensivas que, a cada tiro, expurga mais um pouco a etnia palestina ao matar inocentes civis.

Israel está certo em buscar o fim do Hamas, que não aceita de jeito nenhum a existência do estado de Israel. Porém, impor uma barreira que não permite a entrada de itens básicos de sobrevivência na região demonstra a selvageria de pensamento daquele país judeu. Civis morrem aos rodos, os que sobrevivem permanecem em condições péssimas.

Relatores da ONU afirmaram categoricamente em um relatório após a ofensiva Chumbo Fundido, que Israel cometeu crimes de guerra, e possivelmente, crimes contra a humanidade.

Enquanto isso Avatar consegue o magnífico feito de ser o filme mais rentável da história do Cinema, parabéns Cameron!

Que absurdo.

14 de janeiro de 2010

Roubo...

Não dá para acreditar: o preço da gasolina vai aumentar 3,9%!

Não dá para acreditar. Cada brasileiro tinha que se mobilizar e sair às ruas para protestar contra esse estúpido e animal aumento. Somente no ano passado, anotem bem, o dólar se desvalorizou com relação ao real em 25%.

25%!

O que se esperava de um governo justo com seu povo é que há muito tempo o governo tivesse baixado o preço da gasolina em mais de 10%. Se baixasse o preço da gasolina em 15%, ainda assim a Petrobras estaria tendo um lucro estratosférico.

Ao contrário da expectativa, em vez de baixar o preço da gasolina, o governo vai aumentá-lo. Isso é de um autoritarismo econômico insuperável. Não sei como o governo não se envergonha dessa manobra. Primeiro, tinha de se envergonhar de ter mantido, sem qualquer queda de preço no produto, o preço da gasolina estável, quando o dólar caiu estrondosos 25% somente em 2009.

E, segundo, tinha de se envergonhar de, tendo ficado durante os últimos anos na moita sem repassar a queda do dólar para o preço da gasolina, ostentar a petulância autoritária de prometer que vai aumentar em 3,9% o preço do combustível em face de que será diminuída a quantidade de álcool na mistura com a gasolina.

Isso se dá assim com esse caradurismo porque o povo brasileiro não tem mobilização e aceita ser escorchado pelo governo e pela Petrobras com esses preços selvagens que se cobram em nosso país pelos combustíveis. Agora mesmo se anuncia o aumento de 3,9% no preço da gasolina e nenhuma entidade brasileira protesta para fazer o governo compreender que a sociedade brasileira não aceita esse aumento por todos os títulos iníquo.

Garanto que em todo o território nacional não haverá uma só manifestação de repúdio a essa medida economicamente selvagem. Em vez de baixar o preço da gasolina, o governo o aumenta!

E alguém reclama como eu? Ninguém, todos aceitando bovinamente o aumento que corrói a economia e impede o desenvolvimento, mas que, principalmente, significa um assalto à economia popular.

Se o próprio governo declarou peremptoriamente que o preço dos combustíveis seria controlado por apenas dois fatores, o preço do barril internacional de petróleo e a cotação do dólar, isto dava a entender que seria um preço instável: de acordo com a cotação do dólar e do barril de petróleo, ele teria que ser semanalmente – ou mensalmente – reajustado.

Nada disso. Silêncio sobre a queda violenta do dólar nos últimos tempos. Silêncio. O governo andou alegando que não baixava o preço dos combustíveis para ressarcir-se de um passado em que não os aumentou. Tudo mentira. Petrobras rica e povo pobre.

Nunca vi tamanhas incoerência e injustiça cambial. Isto que, se fosse altruísta, o governo passaria por cima do preço internacional do barril de petróleo e baixaria os preços dos combustíveis para os brasileiros, a quem o governo manobrou para que festejássemos a autossuficiência.

Lixo de autossuficiência que não impede que paguemos mais caro do que devíamos pagar pelos combustíveis. Mas o povo merece, ele em nenhuma latitude do país reclama.

12 de janeiro de 2010

Ilusão

Já tivemos presidentes para todos os gostos, ditatorial, democrático, neo-liberal e até presidente bossa nova. Mas nunca tivemos um vendedor de ilusão como o atual. Também nunca tivemos uma propaganda à moda de Goebbels no Brasil como agora. O lema de Goebbels era "uma mentira repetida várias vezes, se tornará uma verdade".

O povo, no sentido coletivo, vive em um jardim de infância permanente.

Vejamos alguns dados "vendidos" pelo ilusionista.

O governo atual diz que pagou a divida externa, mas hoje, ela está em 230 bilhões de dólares. Você sabia ou não quer saber?

A pergunta é: pagou? Quitou? Saldou? Não. Mas uma mentira repetida várias vezes torna-se verdade.

Pagamos sim, ao FMI, 5 bilhões de dólares, o que portanto mostra apenas quão distante estamos do que é pregado para o povo. Nossa dívida interna saltou de 650 bilhões de reais em 2003, para 1 trilhão e 600 bilhões de reais hoje, e a nossa arrecadação em 2003 - ano da posse do ilusionista - que foi de 340 bilhões, em 2008 foi de 1 trilhão e 24 bilhões de reais. Este ano a arrecadação caiu 1% e, olhem bem, as despesas aumentaram 16, 5%. Mas esses dados são empurrados para debaixo do tapete.

Enquanto isso os petralhas estão todos de bem com a vida, pois somente com nomeação já foram 108 mil, isso sem contar as 60 mil nomeações para cargos de comissão. É o aparelhamento do Estado.

Enquanto isso os gastos com infraestrutura só subiram apenas 1%, já as despesas com os companheiros subiram mais de 70%. Como um país pode crescer sem em infraestrutura, sendo essa inclusive a parte que caberia ao governo?

O PT vai muito bem, os companheiros estão todos muito bem situados, todos, portanto, estão fora da marolinha, mas nós outros estamos sentindo o peso do Estado petista ineficiente, predador e autoritário.

Nas áreas cruciais em que se esperaria a "mão" forte e intervencionista do governo, ou seja, na saúde, educação e segurança o que temos são desastres e mais desastres, mortandades. O governo Lula que fala tanto em cotas raciais para a educação, basta dizer que entre as 100 melhores universidades do mundo, o Brasil passa longe. Já os Estados Unidos (eta capitalismo) possuem 20 universidades que estão entre as 100 melhores. O Brasil não aparece com nenhuma.

São números.

O governo Lula também desfralda a bandeira da reforma agrária. O governo anterior fez mais pela reforma agrária que o PT, mas claro, esses números não interessam. Na verdade não deveriam interessar mesmo. Basta dizer que reforma agrária é mais falácia do que coisa concreta em beneficio da sociedade. Se querem saber, em todos os países onde houve "reforma agrária", logo em seguida se tornaram países importadores de alimento. A ex-URSS, Cuba e China são exemplos claros do que estou afirmando. Mas continuamos com o discurso de reforma agrária. A URSS quando Stalin coletivizou a terra, passou a ser importadora de alimento e consequentemente a ser um dos responsáveis pelo aumento do preço do alimento no mundo.

Entendam.

Cuba antes da comunização com Fidel, produzia 12 milhões de toneladas de açúcar do mundo, hoje não produz nem 2 milhões. A Venezuela tão admirada por Lula produzia 4 mil quilos de feijão por hectares, depois da "reforma agrária" praticada pelo coronel Hugo Chaves só produz 500 kg por hectares.

Mas os socialistas não sabem nem querem saber dessas questões, o trabalho que dá para produzir, para gerar alimentos, isso porque eles tem a sociedade para lhes pagar o salário, as contas e as mordomias, além de dinheiro do contribuinte para colocar comida na sua mesa. Mas eles não sabem nem querem saber sobre o que é produzir, cultivar, plantar alimentos.

Pois bem, os companheiros acreditam nos "milagres" da reforma agrária. Dizem que estão mudando o país. É para gargalhar.

Hoje está mais do que comprovado, que com a diminuição dos impostos nos setores de eletrodoméstico fez o comércio e indústria neste setor produzir e vender mais. O aquecimento na venda de carros também surtiu efeito com a redução de impostos. O que fica definitivamente comprovado que imposto nesse país é um empecilho ao progresso e ao desenvolvimento. Mas o discurso dos petistas é outro. Ou seja, uma mentira repetida várias vezes torna-se verdade.

É o ilusionismo de Lula.

4 de janeiro de 2010

O que quer uma mulher?

Após longos nove meses de uma ansiosa espera, o bebê nasce. O médico anuncia: é uma menina!

Pois é, a Bianca chegou.

A mãe da criança, então, se põe a sonhar com o dia em que a sua princesinha terá um namorado de olhos verdes e se casará com ele, vivendo feliz para sempre. A garotinha ainda nem mamou e já está condenada a dilacerar corações! Laços, babados, contos de fadas... acho que toda mulher carrega a síndrome de Walt Disney.

Até as mais modernas e cosmopolitas têm o sonho secreto de encontrar um príncipe encantado. Como não existe um Antonio Banderas para todas, se conformam com analistas de sistemas, gerentes de marketing, engenheiros mecânicos. Ou mecânicos de oficina mesmo, a situação não
anda fácil. Serão eles desprezíveis? Que nada. São gentis, ajudam com as crianças, dão um duro danado no trabalho e têm o maior prazer em levarem as suas amadas para jantar.

São príncipes à sua maneira, e as mulheres, cinderelas improvisadas, dizem "sim! sim! sim!" diante do altar; mas, lá no fundo, a carência existencial herdada no berço jamais será preenchida.

No fundo, elas querem ser resgatadas da torre do castelo. Querem que o pretendente enfrente dragões, bruxas, e lobos selvagens. Querem que ele sofra, que ele vare a noite atrás delas, que faça tudo o que o José Mayer, o Marcelo Novaes e o Rodrigo Santoro fazem nas novelas. Querem ouvir "eu te amo" só no último capítulo, de preferência num saguão de aeroporto, quando ele chegará a tempo de impedir ela de embarcar.

O amor na vida real, no entanto, é bem menos arrebatador. "Eu te amo" virou uma frase tão romântica quanto "me passa o açúcar". Entre casais, é mais fácil ouvir eu "te amo" ao encerrar uma ligação telefônica do que ao vivo e a cores. E fazem isso depois de terem se xingado por meia-hora.

- Você vai chegar tarde de novo? Tenha a santa paciência, o que é que você tanto faz nesse escritório? Ontem foi a mesma coisa, que inferno! Eu é que não vou prepar o jantar para você às dez da noite! Se vira! Tchau, também te amo!

E batem o telefone possessos.

Sim, sabemos que a vida real não combina com cenas hollywoodianas. Sabemos que há apenas meia dúzia de castelos no mundo, quase todos abertos à visitação de turistas. Sabemos que os príncipes, hoje, andam meio carecas, usam óculos e cultivam uma barriguinha de chope. Não são
heróicos nem usam capa e espada, mas ao menos são de carne e osso, e a maioria tentaria resgatar a sua amada de um prédio em chamas. Não é nada, não é nada, mas já é alguma coisa.

Dificilmente um homem consegue corresponder à expectativa de uma mulher, mas ver-nos tentar deve ser, no mínimo, comovente. Mandamos flores, reservamos quarto em hotéizinhos secretos, surpreendemos com presentes, passagens de viagens, convites inusitados. Somos inteligentes, charmosos, ousados, corajosos, batalhadores. Disputamos o amor como se estivéssemos numa guerra, e pra quê?

Tudo o que recebemos em troca é uma mulher que não pára de olhar pela janela, suspirando por algo que nem ela sabe direito o que é...

Talvez nenhuma mulher se sinta amada o suficiente. E isso não é ruim, não. Pelo contrário, incentiva e instiga o homem a sempre buscar a perfeição e a melhoria contínua do seu relacionamento.