30 de abril de 2009

Relação

Tu passarias a madrugada inteira em frente ao prédio do teu namorado, esperando somente que ele saia na janela e abane, sem nem ao menos te enxergar? Tu escreverias pro teu namorado uma carta com um quilômetro e meio de comprimento, escrito de uma ponta a outra "te amo" e com marcas de batom?

Mulher nenhuma faz pelo João que tem em casa o que faria pelo seu ídolo. É fato. O amor de uma fã é passional, insaciável, até. Fazem qualquer coisa por um homem que nunca viram antes, que não sabem se é bom ou mau, se tem calos nos pés e chulé, ou se ele limpa o ranho na manga da camisa encardida. Apaixonam-se por esta figura idealizada... acho que para suprir alguma carência, sei lá.

Quando o ídolo está hospedado em um hotel, ou está fazendo tratamento em um hospital, lá estão milhares de mulheres fazendo vigília. Mas será que elas fariam a mesma coisa pelo pai, pelo irmão e pelo marido? Passariam as noites em claro, se ajoelhariam na calçada, se desesperariam?

A-há, desconfio seriamente que não.

O sentimento mantido pelos familiares é muito, mas muito mais complexo. Acho que são relações de amor e ódio, pois a convivência humana é implacável. Por mais que amemos quem está próximo de nós, acreditamos que ouvir as suas críticas/reclamações, vivenciar sua ironia e descaso, aguentar seus hábitos e manias, tudo isso talvez valha como cota de sacrifício, hehe. Em caso de doença, não precisa cair de joelhos na calçada do hospital: basta rezar uma Ave-Maria em casa, ao pé da cama.

Já com o ídolo é diferente. Ele sempre é lindo, rico, maravilhoso, afetuoso e lotaaaado de qualidades. Aliás, só tem qualidades. Não se dão conta que facilmente confundem o ídolo com o papel que ele representa, com a letra da música que ele canta. Afinal, ele nunca chegou atrasado a um compromisso contigo, nunca precisou xingar o teu cachorro, nunca roncou e nem te decepcionou, simplesmente porque nunca se relacionou contigo: é um amor unilateral e fantasioso, nada mais. A mulher projeta no ídolo as qualidades que não vê em quem está do lado dela, e entra em surto quando tem a chance de receber dele algo real, nem que seja um autógrafo ou um fio de cabelo.

Não que seja pecado. Mas quem dorme debaixo do mesmo teto os dias deveria receber, no mínimo, a mesma devoção.

Um comentário:

Unknown disse...
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