24 de fevereiro de 2010

Descontrole


Naquele dia de sol, Mário chegou feliz e estacionou o reluzente caminhão em frente à porta de sua casa. Após 20 anos de muita economia e intenso trabalho, sacrificando dias de repouso e lazer, ele conseguiu.

Comprou um caminhão. Orgulhoso, entrou em casa e chamou a esposa para ver a sua aquisição. A partir de agora, seria seu próprio patrão.

Ao chegar próximo do caminhão, uma cena o deixou descontrolado. Seu filho de apenas 6 anos estava martelando alegremente a lataria do caminhão.

Irritado e aos berros, ele investiu contra o filho.

Tomou o martelo das mãos dele e, totalmente fora de controle, martelou as mãozinhas do garoto.

Sem entender o que estava acontecendo, o menino se pôs a chorar de dor, enquanto a mãe interferiu e retirou o pequeno da cena.

Na seqüência, ela trouxe o marido de volta à realidade e juntos levaram o filho ao hospital, para fazer curativos.

O que imaginavam, no entanto, fosse simples, descobriram ser muito grave. As marteladas nas frágeis mãozinhas tinham feito tal estrago que o garoto foi encaminhado para cirurgia imediata.

Passadas várias horas, o cirurgião veio ao encontro dos pais e lhes informou que as dilacerações tinham sido de grande extensão e os dedinhos tiveram que ser amputados.

De resto, falou o médico, a criança era forte e tinha resistido bem ao ato cirúrgico. Os pais poderiam aguarda-lo no quarto para onde logo mais seria conduzido.

Com um aperto no coração, os pais esperaram que a criança despertasse. Quando, finalmente, abriu os olhos e viu o pai o menino abriu um sorriso e falou:

"Papai, me desculpe, eu só queria consertar o seu caminhão, como você me ensinou outro dia. Não fique bravo comigo."

O pai, com lágrimas a escorrer pela face, em desconsolo, se aproximou mais e lhe disse que não tinha importância o que ele havia feito.

Mesmo porque, a lataria do caminhão nem tinha sido estragada.

O menino insistiu: "quer dizer que não está mais bravo comigo?"

"Não, mesmo", falou o pai.

"Então", perguntou o garoto, "se estou perdoado, quando é que meus dedinhos vão nascer de novo?"

19 de fevereiro de 2010

Nosso crescimento

Não é raro se escutar que a família é construída a partir das pessoas. Pais, filhos, sobrinhos, netos, avós, etc, ligados por laços culturais, de parentesco sanguíneo ou não.

Aliás, antigamente era muito mais comum a união de pessoas de uma mesma família. O casamento entre dois irmãos era uma prática comum na Idade Média. E até cincoenta anos atrás, o casamento entre primos era aceito sem problema nenhum.

Não existe família sem pessoas. Ou existe? A resposta é não, não existe.

Tudo se inicia através da constatação de que a família é constituída, quase sempre, de pessoas super diferentes, díspares, mas que vão se assemelhando através do tempo. Ficando parecidas, ou até iguais.

E não é exagero dizer que pessoas que vivem juntas há muito tempo são parecidas fisicamente. A explicação é lógica: como vivem há muito tempo juntos, passaram pelas mesmas emoções. Logo, possuem os mesmos traços de expressão. Mas mesmas tristezas, as mesmas alegrias, dividiram as conquistas, multiplicaram, enfim, as suas vidas.

Um casal, por exemplo, ao "montarem" uma família e morarem juntos, dividindo a mesma cama e o mesmo teto, reúne duas pessoas com histórias e experiências de vida completamente diferentes.

Quando o poeta afirma que dentre as coisas que catalisaram a sua vida, teve o aconchego do lar paterno, ele está afirmando a força de uma formação que se organiza a partir de uma vida bem estruturada, capaz de construir pessoas com base no amor, no respeito e na liberdade. E isso não é utopia, o inverso também é verdadeiro: pessoas sem estrutura são fruto de famílias incapazes de qualquer tipo de relação afetiva. Não têm amor (já escrevi sobre isso em um post, leia-se "Eles não têm amor").

Pode haver diferenças, exceções à regra, mas a regra geral é esta.

O verbo que move a construção das pessoas é amar. Como todo verbo, ele precisa começar e ser desenvolvido. Não nasce pronto. É o tempo que lapida este verbo.

É um verbo ativo, que não admite passividade ou acomodação. De fato, amor não é só sentimento, como dizem alguns: "eu vou só amar quando começar a sentir...". Não!

Deve-se procurar o amor desde o primeiro passo! Se eu não começo a amar, nunca vou sentir nada!

O amor traz a construção de uma família e a compreensão, o apoio, a confiança, a liberdade. O casal deve "se suportar". Não no sentido de "se aturar", mas sim no de "dar suporte" um ao outro. Para que a construção seja sólida, como a casa sobre a rocha, é preciso o interesse e o perdão. E o arrependimento. O perdão não se trata de uma atitude leviana e comodista.

Perdoar, do latim "per donare" (dar para), é dar alguma coisa a quem precisa. Se alguém me machuca, torna-se meu devedor. Quando o perdôo, a dívida fica quitada. A "matéria-prima" do perdão é o erro do outro. Porque erramos, Deus nos dá o seu perdão.

Resumindo, num casamento, ou numa família, a tentação baterá à porta por diversas vezes. Se cedermos, seremos fracos e inconsequentes. Trocaremos o abraço quentinho e o carinho certo por um futuro incerto, de desconfianças e incertezas. Vale mesmo a pena trocar o certo pelo duvidoso? Trocar uma vida inteira de possibilidades de um futuro afetivo e amoroso por uma ou mais aventuras?

14 de fevereiro de 2010

A menina que adorava mentir

Adriana resolveu contar a grande mentira da vida dela.

Esta mentira seria a consagração das décadas em que viveu mentindo. Uma grande mentira que mobilizaria aquela cidadezinha do interior, onde viveu toda a sua vida.

Adriana sempre mentiu.

Desde o berço, achava que a vida seria fácil, fácil. Que os erros não teriam que ser perdoados, já que ninguém os descobriria mesmo! Então, para quê o perdão? Esta palavra inexistia no seu vocabulário, pois a mentira tomou o seu lugar.

Na escola, todo dia contava uma mentira para os seus colegas. Alguns professores a colocavam de castigo e questionavam:

- Por que não escreve histórias?

Mas não, Adriana queria fazer parecer que levava a melhor vida para os outros, e isso só conseguia contando mentiras. Inventava mil estórias. Mal sabia ela que todas aquelas estórias seriam prejudiciais a ela mesma.

Adolescente, teve o segundo namorado à base da mentira. Não durou muito o relacionamento. Claro, as mentiras logo eram desmascaradas. Mas sem homem ela não ficaria... era linda! Uma atriz de novela! Trabalhava, era inteligente, cozinhava e era caprichosa. Assim, conquistaria todos os homens que quisesse.

Adulta, não conseguiu se fixar em um emprego pot muito tempo, pois logo a sua fama de mentirosa se espalhou. Não casou. Que homem iria querer casar com uma mentirosa? E quando se viu diante do desemprego e da falta de oportunidade, um “amigo” lhe convidou para ser política. Ah, foi o momento de glória!

Venceu várias eleições, mentindo. Não cumpria nada do que prometia. Era uma eloqüente mentirosa no coreto de sua cidade, bracejando as promessas invisíveis.

Até que o povo cansou e ela não conseguiu se eleger mais a nenhum cargo. Mas ficou rica. Enquanto procurava outras ocupações, continuava a mentir. Até que ninguém lhe deu atenção mais. Adriana, então, resolveu contar a grande mentira da vida dela.

Esta mentira seria a consagração das décadas em que viveu mentindo. Espalhou para toda cidade que só tinha seis meses de vida. Inventou uma doença e foi tão verdadeira que todos acreditaram. Podia ter sido uma grande atriz.

Chorava nos bares e nas festas e nos pubs e nas esquinas da cidade. Os religiosos rezavam pela sua saúde e Adriana passou a ser tratada como rainha. A grande cidadã e prefeita que aquela cidade já teve!

Até que um médico da capital chegou à cidade e descobriu toda a mentira. E a notícia logo foi se espalhando. Pronto! A vida de mentirosa de Adriana foi destruída. Foi levada à fogueira, assim como Judas nos sábados de aleluia. Ninguém lhe falava mais e nem um “bom dia” recebia. Foi definhando, acreditou na sua grande mentira e dizia que faltava pouco para morrer. Até que morreu. No dia 1º. se abril. Morreu com a doença que havia inventado. O povo daquela cidade só soube por um cartaz redigido com uma velha máquina de escrever na porta do bar. Ninguém foi ao enterro. Só ela e o coveiro. Afinal, ninguém acreditou que Adriana tinha realmente morrido. Nem o padre. Era mais uma grande mentira!

1 de fevereiro de 2010

Faixa de Gaza

Estive lendo sobre a situação dos palestinos na Faixa de Gaza, falta água, comida, energia elétrica, combustíveis, medicamentos, dignidade e talvez esteja faltando até esperança. Israel está pressionando para que o Hamas abandone a liderança política do território. Israel ainda aproveita ataques “terroristas” do Hamas para realizar contra-ofensivas que, a cada tiro, expurga mais um pouco a etnia palestina ao matar inocentes civis.

Israel está certo em buscar o fim do Hamas, que não aceita de jeito nenhum a existência do estado de Israel. Porém, impor uma barreira que não permite a entrada de itens básicos de sobrevivência na região demonstra a selvageria de pensamento daquele país judeu. Civis morrem aos rodos, os que sobrevivem permanecem em condições péssimas.

Relatores da ONU afirmaram categoricamente em um relatório após a ofensiva Chumbo Fundido, que Israel cometeu crimes de guerra, e possivelmente, crimes contra a humanidade.

Enquanto isso Avatar consegue o magnífico feito de ser o filme mais rentável da história do Cinema, parabéns Cameron!

Que absurdo.