29 de janeiro de 2013

A importância do futebol

Olha pra ti. Agora. Vê no quê te tornaste.

Passas a noite sobre um colchão macio e debaixo de cobertores ou lençóis. Teu quarto provavelmente tenha um ventilador no verão, e cobertas quentes no inverno. Não saberias mais viver sem a internet ou a TV. O teu travesseiro até já tem o formato que precisas, e estranhas quando dormes em outro travesseiro que não seja o teu.

Quando levantas, de manhã, vais para o chuveiro, num confortável banho quente e com sabonete de marca antibacteriana (ou como diriam os engenheiros de alimentos - bactericida). Lavas os dentes com um creme sabor menta e faz gargarejos com um anti-séptico. E assim começa o teu dia.

Depois, entras nas calças jeans, caminhas até a garagem, entras no carro com direção hidráulica e atende o telefone celular. Quando desliga, pensa: "- Pôxa, quantos compromissos logo de manhã cedo, que vida difícil!".

Vida difícil? Nesse momento, perdeste o contato com a essência da vida. O "porquê" de estares vivo. Com o barro da existência, a quem te tornaste, segundo escritos antigos, através do sopro divino. És o produto acabado (ou mal-acabado) da distorção da ordem natural das coisas, chamada comumente de "civilização".

As coisas não deveriam ser assim, mas mudar demanda tempo e esforço, coisa que não existe de sobra em ti. É mais fácil se adaptar à realidade do que tentar mudar, não é? Na maior parte do tempo da existência humana na Terra, tudo foi mais simples. Não sentirias falta do teu travesseiro de penas de ganso, porque estarias acostumado a apoiar a cabeça numa pedra. Não sentirias falta do celular, poeque houve um tempo em que as pessoas viviam sem o celular. Serias quase um nômade. Não terias casa, não plantarias e nem colherias. Não morarias em nenhum país, estado, ou cidade, até porque eles não existiriam. Nem as leis que eles(as) trazem consigo. A tua propriedade estaria limitada a alguns poucos pertences que poderias carregar. Também poderias pegar o que quisesse da natureza, sem ter que pedir permissão a quem quer que fosse, porque nada seria de ninguém.

Claro que tudo tem dois lados. Morrerias jovem, já que a medicina não seria muito desenvolvida. Não existiria a penicilina, nem planos de saúde, nem check-up preventivo, nem Tylenol, nem o tão temido "exame do toque". Em compensação, não trabalharias, não terias chefe, nem horário pra acordar, nem horário pra dormir, não ficarias preso em engarrafamentos, não terias que vestir terno e gravata em casamentos no verão porque, e isso é especial, não haveria casamento!

Agora pensa em todas as coisas dispensáveis da vida. Política e economia, por exemplo. Nada disso existiria! A vida seria só viver!

Foi assim, por muito tempo. Por que mudou? O que te transformou no que és hoje? That's the point: foi um único movimento em direção ao conforto. Ou seja, foi a preguiça. Alguém resolveu parar. Cansou de se deslocar de um lugar pro outro porque encontrou um terreninho fértil perto do rio, com clima legal e um bosque nas imediações. Ali, mal precisaria plantar. Só colher algumas frutas e raízes, e cuidar dos animais. Mas pra ficar ali, precisaria levantar uma casa. No começo, apenas um teto serviria. Mas aí é que tá! No exato momento em que o engenho do homem foi empregado para construir o "primeiro conforto", na primeira vez em que o homem modificou a natureza em seu benefício (mea culpa agora), foi como uma faísca num incêndio. Porque, depois do teto, o homem viu que poderia erguer paredes e se proteger do vento. Depois percebeu que se abrisse uns buracos nas paredes, e os chamasse de "janelas", poderia ter um ambiente arejado e iluminado. E para fazer tudo isso, precisaria de ferramentas.

E tudo começou. Uma facilidade criou uma necessidade, que levou a uma invenção, que fez o homem compreender que poderia inventar mais para criar outras facilidades que satisfariam outras necessidades... e assim por diante! E agora tu bebes refrigerantes diet e aquece o hot-dog no forno, te irritas porque a TV não tem HD, e porque teu celular não tem 3G. Te amolecesse nas amenidades da civilização.

Mas só tem um momento em que a tua verdadeira natureza se manifesta: no jogo de futebol. O futebol é o jogo que reproduz aqueles tempos de vida selvagem, vida natural, vida de verdade. Por isso que o futebol é tão importante para os homens. Porque, no futebol, os homens voltam a ser homens!

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