7 de outubro de 2009

2016 à vista

Sou a favor das Olimpíadas no Rio em 2016.

Por quê? Simples, explico abaixo:

Primeiro irei começar contando a história do rei Ludwig II. Poderia começar discorrendo sobre o seu avô, Ludwig I (talvez até devesse). Era simplesmente um pândego o velho Ludwig. Apaixonou-se pela dançarina espanhola Lola Montez, e por ela perdeu toda a sua fortuna e o seu reino. Um homem que é arruinado por uma mulher merece todo o respeito - trata-se de um homem movido por valores sólidos.

Ludwig II, como o seu avô, tornou-se rei da Baviera, abençoado estado da Alemanha. Mas ao contrário do avô, Ludwig II não era um apreciador de damçarinas, nem de quaisquer fêmeas. O jovem Ludwig gostava era de rapazes. Um deles em especial, certo escudeiro com quem manteve relacionamento bastante "amistoso" por mais de DUAS DÉCADAS. Quando este escudeiro se casou com uma mulher, o rei confessou a amigos que o casamento estava-lhe sendo mais doloroso do que a guerra Franco-Prussiana. Puxa vida.

Mas ninguém recebeu tanto amor do rei quanto um homem mais velho: o compositor Richard Wagner. Ludwig protegeu Wagner, quitou as suas dívidas, deu uma casa para o homem morar, inaugurou um teatro para representa as óperas de sua autoria e escrevia-lhe cartas bastante abrasadoras, como se estivesse se correspondendo com uma amante. Do tipo:

"Inquebrantável é o laço que nos une. Firme, sagrado, eterno e profundamente encantador o amor que por ti arde na minha alma".

Óbvio, o rei era homossexual. Porém, é provável que não tenha perdido a virgindade durante seus parcos 41 anos de vida. Chegou a anunciar o casamento com uma linda prima, mas desistiu pouco antes da cerimônia, alegando que preferia se afogar num lago dos Alpes a partilhar o leito com uma mulher.

Ludwig sublimou sua repressão sexual de uma forma que só um rei poderia fazer: construindo castelos. Consumiu todos os preciosos marcos do tesouro real erguendo castelos em meio às nuvens do alto das montanhas da Baviera. São construções de questionável gosto arquitetônico, mas de inegável imaginação infantil.

A imaginação infantil é um mérito, afinal, TODA imaginação é infantil. Hoje, mais ou menos 120 anos após a morte de Ludwig, seus castelos ainda encantam o mundo inteiro. Um deles tornou-se célebre ao servir de modelo para a Disney criar o castelo da bruxa inimiga da Cinderela.

Mas construir castelos nababescos não foi o suficiente para aplacar as angústias do rei. Aos poucos ele foi se isolando do mundo. Dormia durante o dia e acordava à meia-noite para cavalgar pelos campos reais. Abraçava ternamente as colunas de concreto dos castelos, conversava com determinada árvore em determinada floresta, ouvia vozes. Lideranças alemãs cogitaram declará-lo impedido de governar, mas teriam que passar a coroa para seu irmão mais novo, Otto, mas Otto vinha se comportando de maneira ainda mais estranha do que Ludwig nos últimos dias: de quando vez, o príncipe Otto latia para as visitas.

A solução foi transferir o governo para um tio de Ludwig que era mais velho, não falava com árvores e não latia nem rosnava. Um psiquiatra diagnosticou que o rei estava perturbado e Ludwig foi aprisionado em seu próprio castelo. Um dia, ele e o psiquiatra passeavam pelos jardins e não mais retornaram. Depois de horas de buscas, os corpos de ambos foram encontrados num lago das imediações. Ludwig morreu afogado; o psiquiatra tinha marcas de agressão. Ninguém jamais descobriu o que aconteceu. Ludwig foi um mistério até na hora da morte.

Este é o meu motivo. Como se percebe pela história de Ludwig, o problema não é o país ter dinheiro; o problema é como ele gasta o dinheiro. Na Baviera de Ludwig não havia corrupção, mas o rei dissipava os fundos do tesouro em castelos de sonho e contos de fada. Antes que sejam dissipados em ginásios, estádios, metrôs, avenidas, estacionamentos e segurança pública. Por isso que sou a favor da realização da Olimpíada de 2016 no Rio.

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