23 de setembro de 2009

HG é o cara

Humberto Gessinger é o cara. Tive a oportunidade de arranhar um violão uma vez com ele, num churrasco, e realmente ele é tão inteligente quanto dizem, de fato.

Abaixo, resolvi transcrever uma entrevista realizada com ele por uma empresa de Curitiba. Não vou postar o nome da empresa pelo simples fato de que não quero propagandas no meu blog.

As letras são o mais importante nas músicas do Engenheiro do Hawaii? É “dizer algo”?
É um dos aspectos importantes. E é menos racional do que as pessoas imaginam, pelo menos no meu caso. Geralmente eu demoro um tempo pra saber o que eu quis dizer. Também estou na busca.

Qual o sentido de fazer música? É preciso que haja algum? O que te impulsiona a compor?
É natural e inevitável para mim… não penso em nada nem em ninguém quando componho. Simplesmente me parece a coisa certa a fazer. É uma maneira de pensar com o coração e sentir com a cabeça.

Além de fonte para as citações presentes em suas músicas, como a literatura influencia suas composições?
Sempre gostei de ler. Mas a influência quase nunca aparece de forma linear. Toda influência deve passar pelos labirintos da cabeça e do coração, senão é melhor ficar com as fontes originais.

O público de vocês ainda é formado, na maioria, por jovens? Ou os fãs dos Engenheiros cresceram com a banda?
Acho que há uma mistura de quem nos acompanha desde sempre e de gente que vai chegando. Eu tento não analisar muito o público. Esta é a maior prova de respeito: não resumir teu público a um padrão, afinal, ninguém é igual a ninguém.

Como é a juventude de hoje? Você arriscaria definir ou analisar?
São tempos estranhos, muito pragmatismo. Todo mundo só quer saber do que pode dar certo, e às vezes a beleza está justamente no errado. A juventude tem que lidar com estes tempos. Alguns conseguem manter a sensibilidade viva; outros simplesmente aderem.

Qual o problema da ânsia por novidade e rapidez? E qual a alternativa para fugir disso?
A novidade é um mito. Ainda mais na indústria do entretenimento. Os artistas dos quais eu gosto nunca caíram neste canto da sereia. Acho que cada um tem seu relógio e é bobagem assumir os tempos da mídia. Se é que ainda há algo revolucionário, é a fidelidade.

Qual foi o melhor momento da banda em um festival? Foi quando abriram o show para o Nirvana, no Rock em Rio II, em 1993?
O melhor lugar do mundo é aqui e agora. Ter tocado "Parabólica" com violão de nylon antes do Nirvana foi um rito de passagem.

Como é participar de um festival, o que muda em relação a um show da banda sozinha? Você já declarou que festival é como “rodízio de pizza”. Você gosta de tocar em festivais?
É diferente de shows só da banda. É natural que seja mais dispersivo. Por outro lado é legal oferecer ao público pizzas variadas. Quem sabe alguém descobre um sabor que ignorava?

Como a sua timidez declarada se manifesta nos shows?
Ser tímido é um saco. Em minha defesa eu digo que pessoas tímidas são mais confiáveis.

O set list vai ser Acústico MTV somente, ou vão mesclar com músicas que ficaram de fora do álbum? Preferência para os hits como “Ouça o que eu digo, não ouça ninguém”, ou para outras menos conhecidas?
Vamos tocar algumas que ficaram de fora do disco, mas todas no formato acústico. Comecei a tocar viola caipira nos shows e tenho adorado. Acho que só agora descobri meu instrumento.

Além de não fazer simplesmente um “greatest hits”, o que pesou na hora de escolher quais músicas entrariam no acústico?
As músicas se escolheram entre elas mesmas. É difícil explicar, mas a gente sente quando uma canção está no ponto. Espero gravar um outro acústico, pois aprendi muito na estrada com este disco. Acho que é o melhor show da história da banda.

E o que pesou na hora de decidir fazer um acústico MTV? Pensaram em não aceitar, ou a oportunidade não é dispensável?
O papo rolava há algum tempo, mas era fundamental gravar o Surfando Karmas & DNA e o Dançando No Campo Minado antes de fazer o acústico. São dois discos densos na forma e no conteúdo. Depois deles me senti a vontade para desplugar. Acho que fiz a coisa certa, o disco se encaixa na história da banda sem parecer um enxerto.

Em que medida o Engenheiros é porta-voz do Rio Grande do Sul?
Em nenhuma medida. Só falo por mim. Aqui no sul ninguém entende Engenheiros do Hawaii.

O público no Rio Grande do Sul é bairrista?
Nós gaúchos somos um pouco encucados com nosso “pertencimento”. Em nenhum lugar do Brasil a identidade é tão discutida como aqui. Não sei se isso é bom, mas é assim que somos.

Você tem acompanhado a proliferação de pequenas gravadoras? Que papel elas têm no cenário musical?
Não entendo muito deste lado empresarial. Espero que seja para o bem esta fragmentação.

A internet supre a divulgação do trabalho do músico, ou o músico ainda depende muito de tocar em rádio?
Infelizmente o artista depende de intermediários para chegar ao público: empresários, rádios, gravadora, internet. Não faz muita diferença. Quanto mais neutro o filtro, melhor.

“Qual é a lógica do sistema”?
A lógica do sistema é a mesma do cachorro correndo atrás do próprio rabo. As melhores coisas da vida não têm lógica.

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