4 de janeiro de 2010

O que quer uma mulher?

Após longos nove meses de uma ansiosa espera, o bebê nasce. O médico anuncia: é uma menina!

Pois é, a Bianca chegou.

A mãe da criança, então, se põe a sonhar com o dia em que a sua princesinha terá um namorado de olhos verdes e se casará com ele, vivendo feliz para sempre. A garotinha ainda nem mamou e já está condenada a dilacerar corações! Laços, babados, contos de fadas... acho que toda mulher carrega a síndrome de Walt Disney.

Até as mais modernas e cosmopolitas têm o sonho secreto de encontrar um príncipe encantado. Como não existe um Antonio Banderas para todas, se conformam com analistas de sistemas, gerentes de marketing, engenheiros mecânicos. Ou mecânicos de oficina mesmo, a situação não
anda fácil. Serão eles desprezíveis? Que nada. São gentis, ajudam com as crianças, dão um duro danado no trabalho e têm o maior prazer em levarem as suas amadas para jantar.

São príncipes à sua maneira, e as mulheres, cinderelas improvisadas, dizem "sim! sim! sim!" diante do altar; mas, lá no fundo, a carência existencial herdada no berço jamais será preenchida.

No fundo, elas querem ser resgatadas da torre do castelo. Querem que o pretendente enfrente dragões, bruxas, e lobos selvagens. Querem que ele sofra, que ele vare a noite atrás delas, que faça tudo o que o José Mayer, o Marcelo Novaes e o Rodrigo Santoro fazem nas novelas. Querem ouvir "eu te amo" só no último capítulo, de preferência num saguão de aeroporto, quando ele chegará a tempo de impedir ela de embarcar.

O amor na vida real, no entanto, é bem menos arrebatador. "Eu te amo" virou uma frase tão romântica quanto "me passa o açúcar". Entre casais, é mais fácil ouvir eu "te amo" ao encerrar uma ligação telefônica do que ao vivo e a cores. E fazem isso depois de terem se xingado por meia-hora.

- Você vai chegar tarde de novo? Tenha a santa paciência, o que é que você tanto faz nesse escritório? Ontem foi a mesma coisa, que inferno! Eu é que não vou prepar o jantar para você às dez da noite! Se vira! Tchau, também te amo!

E batem o telefone possessos.

Sim, sabemos que a vida real não combina com cenas hollywoodianas. Sabemos que há apenas meia dúzia de castelos no mundo, quase todos abertos à visitação de turistas. Sabemos que os príncipes, hoje, andam meio carecas, usam óculos e cultivam uma barriguinha de chope. Não são
heróicos nem usam capa e espada, mas ao menos são de carne e osso, e a maioria tentaria resgatar a sua amada de um prédio em chamas. Não é nada, não é nada, mas já é alguma coisa.

Dificilmente um homem consegue corresponder à expectativa de uma mulher, mas ver-nos tentar deve ser, no mínimo, comovente. Mandamos flores, reservamos quarto em hotéizinhos secretos, surpreendemos com presentes, passagens de viagens, convites inusitados. Somos inteligentes, charmosos, ousados, corajosos, batalhadores. Disputamos o amor como se estivéssemos numa guerra, e pra quê?

Tudo o que recebemos em troca é uma mulher que não pára de olhar pela janela, suspirando por algo que nem ela sabe direito o que é...

Talvez nenhuma mulher se sinta amada o suficiente. E isso não é ruim, não. Pelo contrário, incentiva e instiga o homem a sempre buscar a perfeição e a melhoria contínua do seu relacionamento.

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