10 de setembro de 2009

Assalto

- Alô? Quem tá falando?
- Aqui é o ladrão.
- Desculpe, a telefonista deve ter se enganado, eu não queria falar com o dono do banco. Tem algum funcionário aí?
- Não, os funcionário tá tudo refém.
- Ah, entendo. Afinal, eles trabalhando quatorze horas por dia, ganham um salário ridículo, vivem levando esporro, mas não pedem demissão porque não encontram outro emprego, né? Vida difícil... mas será que eu não poderia sar uma palavrinha com um deles?
- Impossível. Eles tá tudo amordaçado.
- Ah, foi o que pensei. Gestão moderna, né? Se fizerem qualquer crítica, vão pro olho da rua. Então não tem nenhum chefe por aí?
- Claro que não, mermão. Quanta inguinorânça! O chefe tá na cadeia, que é o lugar mais safo pra se comandar assalto!
- Bom... sabe o que é? Eu tenho uma conta...
- Tamo levando tudo, ô bacana. O saldo da tua conta é zero!
- Não, isso eu já sabia. O que eu queria saber mesmo era uma informação sobre juros...
- Companheiro, eu sou um ladrão pé-de-chinelo. Meu negócio é tudo pequenininho. Assaldo a banco, vez ou outra um sequestro. Pra saber de juro é melhor tu ligá pá Brasília!
- Entendo... o senhor tá na informalidade, né? Também, com o preço que tão cobrando por um voto hoje em dia... mas será que não podia fazer um favor pra mim? É que eu atrasei o pagamento do cartão e queria saber quanto que vou ter que pagar de taxa.
- Tu tá pensando que eu tô brincando, truta? Isso é um assalto!
- Longe de mim pensar que o senhor está de brincadeira! Que é um assalto eu sei perfeitamente: ninguém no mundo cobra os juros que cobram no Brasil. Mas só queria saber o número que preciso: seis por cento, sete por cento?
- Eu acho que tu não tá entendendo, ô mané. Sou assaltante! Trabalho na base da intimidação e da chantagem, sacou?
- Ah, eu já esperava. Você vai querer vender um seguro de vida ou um título de capitalização, né?
- Não, já falei, eu sou... peraí bacana... hoje eu tô bonzinho e vou quebrar o teu galho.

(um minuto depois)

- Alô? O sujeito tá aqui, e tá dizendo que é oito por cento ao mês.
- Puxa... que incrível!
- Incrível por quê? Tu achava que era menos?
- Não, achava que era mais ou menos isso mesmo. Tô impressionado é que, pela primeira vez na vida, eu consegui obter uma informação de uma empresa prestadora de serviço pelo telefone em menos de meia hora e sem ouvir "Pour Elise" enquanto me transferem de um ramal para o outro!
- Quer saber? Fui com a tua cara, mané. Acabei de dar umas bordoadas no gerente e ele falou que vai te dar um desconto. Só vai te cobrar quatro por cento, tá ligado?
- Não acredito! E eu não vou ter que comprar nenhum produto do banco?
- Nadica de nada, já tá tudo acertado!
- Nossa, muito obrigado, meu senhor. Nunca fui tratado dessa...

(de repente, ouvem-se tiros e gritos)

- Ih, sujou! Puliça!
- Polícia? Que polícia? Alô? Alô?

(sinal de ocupado...)

- Droga! Maldito Estado! Quando o negócio começa a funcionar, entra o governo e estraga tudo! Max Webber estava errado!

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