3 de setembro de 2009

Get a life!

Esta postagem é bem triste. É uma história verídica. Não vou dizer com quem aconteceu, seria muita hipocrisia. Pelo menos por agora. No final da postagem, de repente. Mas aconteceu de verdade.

"Please don't put your life in the hands of a rock 'n roll band". Quem proferiu este alerta foi o Sr. Noel Gallagher, nos tempos idos de 1995, na canção de nome "Don't look back in anger". Mas acabei nem ouvindo. Procuro nunca ouvir essa música.

Com 13 anos, tinha recém descoberto a antena UHF. Plugando a antena na TV da sala (a única da casa), acabei descobrindo a MTV. Tudo muito novo e chamativo, atraente. Me chamou a atenção. Uau, havia vida fora da TV Manchete! Adorava escutar Bon Jovi, as aulas de judô e o futebol. E meninas. Sempre fui um pouco tímido, mas era chegada a hora de deixar de lado este lado (!) e me tornar mais sociável. E tinha que ser com essa banda.

Com a MTV, começava a se desenhar para mim todo um paradigma diferente do que é música, mas antes de tudo, repensei inclusive o sentido daquilo tudo. Por quê temos que ser diferentes dos outros, se somos todos iguais (e tão desiguais...)? Seria o sentido da vida balançar a cabeça de olhos fechados e sonhar? Essa possibilidade acabei descobrindo nos acordes de um guitarrista marrento e com cara de brabo, óculos iguais ao do John Lennon. Cabelos idem.

Acabei jogando a minha vida nas mãos de uma banda de rock, justamente o contrário do que o tal guitarrista me alertou para não fazer, logo no início. Hoje, aos 24, vejo a consequência do erro se materializar em lágrimas. Estou aqui porque, em algum momento, joguei a minha vida nas mãos de uma banda de rock, mais especificamente nos acordes e na voz de dois músicos completamente inconsequentes, gente que jamais mereceria ter nas mãos os sentimentos de qualquer um. Mas joguei nas mãos deles porque sou exatamente igual.

Aos 13, via Liam com 30 e poucos e pensava: "Sou igual a esse cara". E no fundo eu sabia que quando eu tivesse 30 e poucos, continuaria sendo um imbecil apaixonado e inconsequente como ele, às vezes meio marrento, mas ainda assim jogando todas as coisas importantes da vida para o alto como ele.

E é por isso que nessa manhã, triste como há tanto tempo eu não ficava, consigo entender o cancelamento do show do Oasis meia hora antes de a banda subir ao palco do festival "Rock in Seine", diante de vinte mil pessoas. Só consigo imaginar aquela voz metálica no microfone, aquela voz seca, aquela voz fria como um cara que acorda fora de casa logo de manhã, todo escabelado: "O show do Oasis foi cancelado".

Pouco depois daquele ano da descoberta da UHF, o Oasis tocou no Brasil. Ainda adolescente e com sérias dificuldades financeiras, nem cogitei a ida. Frustração eu não precisava. Alimentar expectativas sempre foi o meu defeito.

Só o que eu conseguia pensar era no encontro não-planejado. Quando não planejamos, se torna. Simplesmente acontece. Não imaginamos o que está no porvir, e qualquer coisa que venha acaba sendo um mistério super bom de decifrar. Deveria ir até lá? Seria mesmo um romance eterno, ou só uma bobagem passageira? Mesmo que tudo viesse a acabar quatro dias, quatro anos ou quatro vidas depois, eu sabia que iria até lá. A teimosia pode ser uma virtude.

Quando tudo já estava perdido nas brumas daqueles últimos dias, chorei no Aeroporto Salgado Filho, com o ingresso do show no bolso, ao perder o último voo para Buenos Aires. Cheguei ao aeroporto segundos depois de o avião decolar, ainda a tempo de ouvir as últimas palavras dela ao telefone: "Eu tô indo".

Ela foi a Buenos Aires, eu voltei, e depois ela iria para longe, longe, longe, de forma que jamais nos veríamos de novo. Ou jamais da forma como deveríamos nos ver. Era para ser o nosso último final de semana para sempre. Perdi o show do Oasis e outras coisas que eu jamais conseguirei mensurar.

Foi naquele início de tarde, no aeroporto Salgado Filho, que fiquei sem reação pela primeira vez na minha vida. Estava me tornando um homem, enfim. Entende, quando ficamos sem reação? Não é uma coisa comum. Sem saber se chora, se ri. Exatamente, é parar no tempo. Eu ouvia as pessoas passando a minha volta, naquele ruído de não-lugar típico dos aeroportos, e não sabia o que fazer.

Sentei num banco e fitei o nada, o vazio. Foram cerca de cinco horas sentado no Salgado Filho sem ter a menor idéia do que fazer. Como fui perder o avião para o show do Oasis? Pessoas me ligavam no telefone, outras que passavam me olhavam estranho. E eu olhava a parede com o cérebro zerado. Nada me ocorria diante de tamanha tragédia. Parecia que não havia mais nada para se fazer na vida. Um sentimento tão nulo que achei que jamais sentiria de novo.

Pois aconteceu outras duas vezes. Uma delas me fez perder o show do Oasis em Porto Alegre, no último mês de abril, quando um sentimento maior me obrigava a estar a milhas e milhas e milhas de distância do paralelo 30 sul para não enlouquecer. Pois a terceira, e talvez a pior, foi hoje.

Eu estou, denovo, pela terceira vez em 24 anos, travado. Não sei como reagir, e também não quero pensar sobre isso. Minha segurança às vezes me assusta. Mas também me faz forte como poucos, seguro como poucos, e acho que acabo transmitindo isso. Auto-confiança e segurança são duas das minhas maiores virtudes. Deve ser por isso que conheço várias pessoas que gostariam de estar do meu lado. Mas não quero pessoas à minha volta, me bajulando. Quero só uma.

O sentimento de azar e escolhas mal-feitas é maior do que qualquer coisa, e só no que consigo pensar agora é num conselho, aquela coisa que se fosse boa, ninguém daria "for free". Pois aí vai: não coloque a sua vida nas mãos de uma banda de rock e nem nas de mulheres de cabelos ruivos e pele branca, com um sorriso encantador. Mas, se colocar, que nem eu, saiba que o caminho é árduo e irreversível. Só depois não diga que não avisei.

P.S.: Noel Gallagher deixou o Oasis. O que deve ser, certamente, o fim da banda.

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